Pesquisa da ECI analisa as implicações das tecnologias da informação sobre o mundo do trabalho
segunda-feira, 19 de novembro de 2012, às 5h56
Qual é o tempo do trabalho e qual é o tempo da vida? Onde está o lugar do trabalho e onde está o lugar da família e do lazer? Em tempos de acesso imediato a informações e pessoas por meio dos dispositivos móveis, os tempos e lugares do cotidiano estão cada vez menos definidos, distintos ou mesmo preservados.
Pesquisa de doutorado desenvolvida na Escola de Ciência da Informação mostra que a invasão “da casa” e o consumo da vida privada pelo trabalho mediado pelas Tecnologias da Informação e da Comunicação (TICs) são uma realidade e se relacionam diretamente à sobrecarga e ao adoecimento do trabalhador.
Em grande parte, as atividades de trabalho não estão mais limitadas a um território físico ou vinculadas à cronologia do relógio, lembra a psicóloga Jaqueline Abreu Vianna, autora da tese. “Logo, não é mais o trabalhador que se desloca até o trabalho, mas o trabalho que, graças principalmente às inovações tecnológicas, ganhou flexibilidade para ir aonde está o trabalhador”, ela nota.
“No entanto, para compreender o momento atual, é preciso reconhecer que esse modelo de organização dos processos de trabalho não está vinculado, exclusivamente, a incrementos tecnológicos, nem se explica por uma relação simplista de causa e efeito. O trabalho acontece nos chamados fluxos de informação, o que para alguns autores define o capitalismo informacional, caracterizado pela redução de tempos e a eliminação de barreiras de espaço visando a maiores ganhos de produtividade”, explica Jaqueline.
De acordo com a pesquisadora, a mistura de representações de tempos e lugares traz consequências sobre a saúde, a construção da identidade e a sociabilidade do trabalhador, entre outras dimensões. “Além da distorção de significados e da consequente ambiguidade gerada, o que preocupa é a canibalização do espaço doméstico, da vida íntima, do lazer, do tempo de descanso”, salienta Jaqueline Vianna, que é professora da Fundação Getúlio Vargas.
Os efeitos
Esforço de revisão bibliográfica, combinado a investigação por meio de entrevistas em profundidade com profissionais de diversas áreas, levou à identificação de alguns efeitos do trabalho na vida do trabalhador. O primeiro deles é o que Jaqueline Vianna denomina de invasão da vida doméstica. “As implicações da invasão do trabalho na esfera privada são relevantes, porque o espaço doméstico não é apenas o lugar onde se vive, mas, na maioria das vezes, onde se compartilha a intimidade com alguém, que não é um colega de trabalho”, ressalta a pesquisadora.
Esforço de revisão bibliográfica, combinado a investigação por meio de entrevistas em profundidade com profissionais de diversas áreas, levou à identificação de alguns efeitos do trabalho na vida do trabalhador. O primeiro deles é o que Jaqueline Vianna denomina de invasão da vida doméstica. “As implicações da invasão do trabalho na esfera privada são relevantes, porque o espaço doméstico não é apenas o lugar onde se vive, mas, na maioria das vezes, onde se compartilha a intimidade com alguém, que não é um colega de trabalho”, ressalta a pesquisadora.
A tese identifica perdas também na sociabilidade, marcada pelo contato físico e pela ambiência que se cria num determinado lugar. “Em situações de trabalho mediado pela tecnologia, o contato com o outro é prejudicado. Mesmo quando se dispõe de ferramentas ou dispositivos tecnológicos capazes de promover a comunicação a distância entre os indivíduos, há comprometimento da sociabilidade”, afirma Jaqueline Vianna.
Débito constante
A pesquisa apontou um quadro de adoecimento provocado, em grande parte, por jornadas ampliadas, marcadas por fluxo frenético de informações. “E o sentimento do trabalhador é de um tempo que foge e de um débito constante”, diz Jaqueline Vianna.
A pesquisa apontou um quadro de adoecimento provocado, em grande parte, por jornadas ampliadas, marcadas por fluxo frenético de informações. “E o sentimento do trabalhador é de um tempo que foge e de um débito constante”, diz Jaqueline Vianna.
Para evidenciar as consequências negativas para a saúde física e mental, ligadas a fatores como o tempo de descanso cada vez mais exíguo, a autora cita números da Organização Mundial de Saúde, divulgados em 2010: estudos identificaram transtornos mentais leves em 30% dos trabalhadores ocupados e males mais graves em 5% a 10%.
Outro elemento destacado pela tese diz respeito ao controle sobre o trabalhador. “O controle acaba sendo exercido, também, pelo próprio grupo de trabalhadores. Ora, como não estar online se todos estão? E, uma vez conectado, é sinal verde para o trabalho! O fluxo tensionado mantém todos conectados à rede de informações e ao trabalho, onde quer que estejam e em qualquer tempo.”
Segundo Jaqueline Vianna, “não há o que se discutir sobre as vantagens ou facilidades que as TIC trouxeram para o trabalho, mas a pesquisa buscou investigar algumas perdas ou reflexos nesse modelo de organização, que, muitas vezes, são ignorados ou não interessam que sejam percebidos”. Ainda segundo a pesquisadora, diante de sobrecarga informacional, o uso da informação é prejudicado por superficialidade e fragmentação.
“Essa fragmentação não é apenas da informação, mas também do significado. O trabalhador enfrenta, então, o paradoxo do excesso e fragmentação da informação, que faz perder a visão do todo, e tudo isso gera retrabalho. O ciclo de sobrecarga, portanto, se retroalimenta”, conclui.
Tese: O trabalho mediado por TIC – Tecnologias de informação e comunicação – e seus efeitos sobre o trabalhador
De Jaqueline Abreu Vianna
Orientadora: Helena Maria Tarchi Crivellari
Defesa em 26 de abril de 2012, no Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação
Nenhum comentário:
Postar um comentário