Guia Compacto do Processo Penal conforme a Teoria dos Jogos

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Alexandre Morais da Rosa

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02/01/2010

R&L # 2 Agamben, Giorgio. O que é o contemporâneo? e outros ensaios.



1. Capa.
2. Jacinto Nelson de Miranda Coutinho, nos idos de 2003, disse-me um dia: Alexandre, talvez seja legal ler Giorgio Agamben. E quando Jacinto fala alguma coisa ou escreve em guardanapo, como diz o Aury, deve-se levar a sério. Na época li Homo Sacer e, depois, Jeanine Nicolazzi Philippe, Professora da UFSC, o citou numa conferência. De fato, Agamben promove a indicação de algumas chaves interpretativas. Além do Contemporâneo, no mesmo livro, há ainda, dois ensaios. O primeiro sobre Dispositivo, algo que me lembrou muito Rui Cunha Martins e seu livro pela Almedina, "O método da fronteira", cujo post virá em breve, bem assim o ensaio "O amigo", uma das coisas mais belas que já li: "Os amigos não condividem algo (um nascimento, uma lei, um lugar, um gosto): eles são com-divididos pela experiência da amizade. A amizade é a condivisão que precede toda divisão, porque aquilo que há para repartir é o próprio fato de existir, a própria vida. E é essa partilha sem objeto, com esse com-sentir originário que constitui a política." (p. 92, tradução brasileira de Vinícios Nicastro Honesko).

Giorgio Agamben

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Giorgio Agamben (Roma, 1942) é um filósofo italiano. Formado em Direito, com uma tese sobre o pensamento político de Simone Weil, é responsável pela edição italiana da obra deWalter Benjamin . Foi visiting professor na Università di Verona e na New York University, antes de renunciar de entrar nos Estados Unidos da America, em protesto contra a política de segurança do anterior governo norte-americano[1]. Actualmente lecciona Estética e Filosofia Teorética na Università IUAV em Veneza. A sua produção centra-se nas relações entre a filosofia, a literatura, a poesia e, fundamentalmente, a política.

Entre as suas publicações principais encontramos Bartleby, la formula della creazione (1993) - uma analise da figura de um escrivão que deixa de escrever («preferiria não»), que é uma quase reflexão indirecta sobre o seu próprio método de escritor e de filosofo- e o imenso projecto, que o continua ainda a ocupar, iniciado no inicio dos anos 90, em torno de uma figura jurídica singular do antigo direito romano: o homo sacer ou «homem sagrado». A publicação de Homo sacer: Il potere sovrano e la nuda vita (Torino: Einaudi, 1995), um estudo que o leva ao reconhecimento internacional, marca a primeira parte ou fase dessa investigação.

[editar]Sobre Agamben

Há tempos, Giorgio Agamben vem construindo uma obra extensa que visa dar conta, entre outras coisas, da configuração contemporânea dos desafios próprios à ação política. Responsável pela edição italiana das obras completas de Walter Benjamin, ex-aluno de Heidegger, autor, juntamente com Deleuze, de trabalhos sobre teoria literária e filosofia, este professor da Universidade de Verona, nascido em 1942, é atualmente um dos filósofos mais discutidos de sua geração.[carece de fontes]O contributo deste autor para o pensamento político contemporâneo tem-se revelado muito significativo, sobretudo no âmbito da reflexão bio-política.

[editar]Endnotes and references

[editar]Bibliografia (com referências às traduções portuguesas)

  • L'uomo senza contenuto, Milano, Rizzoli, 1970 (Macerata, Quodlibet, 1994)
  • Stanze. La parola e il fantasma nella cultura occidentale, Torino, Einaudi, 1979, reedição ed. Einaudi, 2006 (em português: Estâncias: a palavra e o fantasma na cultura ocidental. Tradução de Selvino Assmann. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2007)
  • Infanzia e storia. Distruzione dell'esperienza e origine della storia, Torino, Einaudi 1979 (em português: Infância e História: destruição da experiência da história. Tradução de Henrique Burigo. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2005)
  • Il linguaggio e la morte, Torino, Einaudi, 1982 (em português: Linguagem e Morte: um seminário sobre o lugar da negatividade. Tradução de Henrique Burigo, Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2006)
  • La fine del pensiero, Paris, Le Nouveau Commerce, 1982 (em português: O Fim do Pensamento. Tradução de Alberto Pucheu Neto, 7 Letras, Rio de Janeiro, 2004)
  • Idea della prosa, Milano, Feltrinelli, 1985 (Macerata, Quodlibet, 2002) (em português: A Ideia da Prosa. Tradução de João Barrento. Lisboa: Cotovia, 1999)
  • La comunità che viene, Torino, Einaudi, 1990 (em português: A Comunidade que Vem. Tradução de António Guerreiro. Lisboa: Presença, 1993)
  • Bartleby, la formula della creazione, Macerata, Quodlibet, 1993, com Gilles Deleuze (em português: Bartleby, Escrita da Potência. Tradução de Pedro A.H. Paixão e Manuel Rodrigues. Lisboa: Assírio & Alvim, 2008)
  • Homo sacer. Il potere sovrano e la nuda vita, Torino, Einaudi, 1995 (em português: Homo Sacer: O Poder Soberano e a Vida Nua. Tradução de António Guerreiro. Lisboa: Presença, 1998; Homo Sacer. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2002)
  • Mezzi senza fine. Note sulla politica, Torino, Bollati Boringhieri, 1996
  • Categorie italiane, Venezia, Marsilio, 1996
  • Image et mémoire, Paris, Hoëbeke, 1998
  • Quel che resta di Auschwitz. L'archivio e il testimone, Torino, Bollati Boringhieri, 1998
  • Il tempo che resta, Torino, Bollati Boringhieri, 2000 (em português: O que resta de Auschwitz. Tradução de Selvino J. Assmann. São Paulo: Boitempo, 2008)
  • L'aperto. L'uomo e l'animale, Torino, Bollati boringhieri, 2002
  • L'ombre de l'amour, Paris, Rivages, 2003 (con Valeria Piazza)
  • Stato di Eccezione, Torino, Bollati Boringhieri, 2003 (em português: Estado de Exceção. Tradução de Iraci Poletti. São Paulo: Boitempo, 2004)
  • La potenza del pensiero. Saggi e conferenze, Neri Pozza, 2005
  • Profanazioni, Nottetempo, 2005 (em português: Profanações. Tradução de Luísa Feijó. Lisboa: Cotovia, 2006; Tradução de Selvino Assmann. São Paulo, Boitempo, 2007)
  • Che cos'è un dispositivo?, Nottetempo, 2006 (em português: O que é um dispositivo?. Tradução de Nilcéia Valdati. Santa Maria - RS: Palloti, 2006)
  • L'Amico, Nottetempo, 2007
  • Ninfe, Torino, Bollati Boringhieri, 2007
  • Il regno e la gloria. Per una genealogia teologica dell'economia e del governo. Homo sacer. Vol 2/2, Neri Pozza, 2007
  • Che cos'è il contemporaneo?, Nottetempo, 2008
  • Signatura rerum. Sul Metodo, Torino, Bollati Boringhieri, 2008
  • Angeli. Ebraismo Cristianesimo, Islam, a cura di E. Coccia e G. Agamben, Vicenza, Neri Pozza 2009
3. Comentário:
4.1.

O que é o contemporâneo? (Giorgio Agamben)


«[...] O poeta –
o contemporâneo – deve ter o olhar fixo no seu tempo. Mas que coisa vê quem vê o seu tempo, o sorriso demente do seu século? [... C]ontemporâneo é aquele que tem o olhar fixo no seu tempo, para nele se aperceber não das luzes mas da escuridão. Todos os tempos são, para quem neles experimenta a contemporaneidade, obscuros. Contemporâneo é aquele que, precisamente, sabe ver esta obscuridade, que está à altura de escrever mergulhando a pena nas trevas do presente. Mas que significa “ver as trevas”, “aperceber-se da escuridão”?
Uma primeira resposta é-nos sugerida pela neurofisiologia da visão. O que acontece quando nos encontramos num ambiente privado de luz, ou quando fechamos os olhos? O que é a escuridão que então vemos? Os neurofisiologistas dizem-nos que a ausência de luz desinibe uma série de células periféricas da retina, ditas, precisamente, off-cells, que entram em actividade e produzem aquela espécie particular de visão a que chamamos escuridão. A escuridão não é, portanto, um conceito privativo, a simples ausência da luz, algo como uma não-visão, antes o resultado da actividade dasoff-cells, um produto da nossa retina. Isto significa, se voltarmos agora à nossa tese sobre a escuridão da contemporaneidade, que aperceber-se desta escuridão não é uma forma de inércia ou de passividade, antes implica uma actividade e uma habilidade particular, que, no nosso caso, equivalem a neutralizar as luzes que provêem da época para descobrir as suas trevas, a sua escuridão especial, que, no entanto, não é separável daquelas luzes.


Pode dizer-se contemporâneo somente quem não se deixa cegar pelas luzes do século e consegue nelas distinguir a parte da sombra, a sua íntima obscuridade. Com isto, todavia, não respondemos ainda à nossa pergunta. Porque nos deveria interessar chegar a aperceber-nos das trevas que provêem da época? Não é talvez a escuridão uma experiência anónima e por definição impenetrável, algo que não nos é dirigido e que não pode assim dizer-nos respeito? Pelo contrário, o contemporâneo é aquele que se apercebe da escuridão do seu tempo como algo que lhe diz respeito e que não cessa de ointerpelar, algo que, mais do que todas as luzes, se dirige directa e singularmente a ele. Contemporâneo é aquele que recebe em pleno rosto o feixe de trevas que provêem do seu tempo.

No firmamento que olhamos de noite, as estrelas brilham circundadas por uma espessa treva. Dado que no universo há um número infinito de galáxias e de corpos luminosos, a escuridão que vemos no céu é algo que, segundo os cientistas, necessita de explicação. É precisamente acerca da explicação que a astrofísica contemporânea dá sobre esta escuridão que vos queria agora falar. No universo em expansão, as galáxias mais remotas distanciam-se de nós a uma velocidade tão grande que a sua luz não chega a alcançar-nos. Aquilo de que nos apercebemos como escuridão do céu é esta luz que viaja velocíssima em direcção a nós e que, no entanto, não nos pode alcançar, porque as galáxias de onde provêm distanciam-se a uma velocidade superior à da luz.



Aperceber-se, na escuridão do presente, desta luz que procura alcançar-nos e que não o pode fazer, eis o que significa ser contemporâneo. Por isso é que os contemporâneo são raros. E por isso é que ser contemporâneo é, antes de mais, uma questão de coragem: porque significa ser capaz não apenas de ter o olhar fixo na escuridão da época, mas também aperceber-se, nessa escuridão, de uma luz que, dirigida na nossa direcção, se distancia infinitamente de nós. Ou ainda: ser pontual ao encontro a que se pode somente faltar.
Por isso o presente de que a contemporaneidade se apercebe tem a espinha partida. O nosso tempo, o presente não é, na verdade, apenas o mais longínquo: não pode em caso algum alcançar-nos. As suas costas estão despedaçadas e nós situamo-nos exactamente no ponto da fractura. Por isso somos, apesar de tudo, contemporâneos. Compreendam bem que o encontro que está em questão na contemporaneidade não tem lugar simplesmente no tempo cronológico: é, no tempo cronológico, algo que urge dentro dele e que o transforma. E esta urgência é a intempestividade, o anacronismo que nos permite aferir o nosso tempo na forma de um
demasiado cedo que é, também, um demasiado tarde, de um que é, também, um “ainda não”. E, conjuntamente, reconhecer nas trevas do presente a luz que, sem nunca poder alcançar-nos, está perenemente em viagem na nossa direcção. [...]»

Giorgio Agamben, Che cos'è il contemporaneo? (2006),
nottetempo, Roma
, 2008, pp. 13-17.
4.2. Blog comenta: clique aqui

5. Mais de Agamben:

Assinala Agamben sobre o conceito de ‘homo sacer’: “Ele foi excluído da comunidade (...) visto que qualquer um pode matá-lo sem cometer homicídio, a sua inteira existência é reduzida a uma vida nua despojada de todo direito, que ele pode somente salvar em uma perpétua fuga ou evadindo-se em um país estrangeiro. Contudo, justamente por ser exposto a todo instante a uma incondicionada ameaça de morte, ele encontra-se em perene relação com o poder que o baniu. Ele é a pura zoé, mas a sua zoé é capturada como tal no bando soberano e deve a cada momento ajustar contas com este, encontrar o modo de esquivá-lo ou de enganá-lo. Neste sentido, como o sabem os exilados e os banidos, nenhuma vida é mais ‘política’ do que a sua.”[1].

[1] AGAMBEN, Giorgio. Homo sacer: o poder soberano e a vida nua I. Trad. Henrique Burigo. Belo Horizonte: UFMG, 2002, p. 189


Um comentário:

  1. O autor é citado com alguma frequencia pelo Ministro Eros Grau, ao lado de Carl Schmitt, de modo a justificar algumas decisões sob o argumento de "Estado de Exceção", aliás, título de um dos grandes livros de Agamben. Podem ser citados: Agravo Regimental na Reclamação nº 3.034-2 - PB; Adin 2.240-7 - BA; e no voto vencido do Recurso Especial Eleitoral nº 33.174 (TSE). Curioso como o argumento do Estado de Exceção gera um estado de supra-constitucionalidade, autorizativo de decisões de notável liberdade interpretativa, que podem ter ou não justificativa adequada. Porém, ao contrário de Schmitt, para quem o soberano decidia o que era o estado de exceção, vemos que tal incumbência aparenta estar cometida ao Judiciário.

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