“A defesa em psicanálise dirige-se contra uma miragem, um nada, um vazio, e não contra tudo o que existe e pesa na vida.” (Lacan, Seminário 3: As psicoses, p.246)) |
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Parece até que este boletim refere-se ao anterior, há um olhar que merece ser visto. Do texto de Maria Cecília Ferretti, escrita de sua intervenção no Seminário da Diretoria da EBP-SP, é possível dizer que amodeia-seaquele que sabe, assim como teme-se aquele que todo goza, o pai primevo, razão da paranoia primordial – isso bem merece um limite. Limite este implícito na resenha de Daniela Affonso sobre o texto de Jorge Alemán “La metamorfosis de la ciencia en técnica: el discurso capitalista”, que oferece matéria para aproximar delírio generalizado e atualidade. No capitalismo “nada opera o Nome-do-Pai, e o que emerge é a hemorragia que nada sutura”; como a psicanálise pode fazer valer o impossível recusado pela técnica capitalista?
No Encontro, cultura e arte. Lançamento de livros dos autores da EBP e a exposição de Stéphane Malysse. Ah, essa lata de sardinhas! Se no Seminário 11 Lacan fala que ela não está te vendo, já no Seminário 16, Lacan, ao responder a uma crítica de que teria ousado escrever em algum lugar Freud e eu, lembrou-se de uma situação: um amigo lhe fala sobre uma lata de sardinhas que boiava nas imediações do barco, depois de a terem consumido: “Ei, essa lata, você a está vendo porque olha para ela, pois ela, por sua vez não precisa ver você para olhá-lo”. Associa Freud à lata de sardinhas: “Freud não precisa me ver para me olhar”. Inseridos nesta série, o olhar de Freud nos refere e o ensino de Lacan, nos transfere, nos instrumenta, causa o desejo – paranoia à parte?
Veja também as referências bibliográficas, as atividades nas Seções e como se inscrever neste Encontro. São Paulo e a EBP esperam por você! Boa leitura!
Carmen Silvia Cervelatti
Membro da EBP/AMP (SP) |
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Hainamoration, transferência negativa e paranoia primordial Quando Lacan aborda a relação entre o saber e a verdade, no Seminário 20, Mais ainda, ele o faz de maneira a referir-se especificamente ao discurso analítico. Trata-se de um momento bastante particular em seu ensino, pois, ao mesmo tempo em que mostra que a análise tem a “presunção” de constituir um saber sobre a verdade, surgem determinados conceitos que minimizam e questionam o alcance e a possibilidade da verdade ser alcançada. Dentre esses conceitos destacam-se aqueles que dizem respeito ao semblante, ao semidizer, ao analista, que, do lugar do objeto a, interpela e cerca o gozo.
Vemos surgir, então, naquilo que diz respeito à transferência, a “hainamoration” ou o “amódio”, conceitos que na psicanálise juntam o amor e o ódio. Se o amor esteve até então ligado à transferência – ama-se aquele que sabe –, o ódio agora se atrela à questão do saber. A análise nos lembra, diz Lacan, que não se conhece nenhum amor sem ódio. Assim, o saber nasce também da suspeita e da transferência negativa.
Para mostrar que o saber pode vir ao mundo através dos paranoicos, Eric Laurent (1) retoma um ensaio de Freud de 1916, intitulado Panoramas sobre as neuroses de transferência, encontrado há mais ou menos 20 anos entre os pertences de Balint, provavelmente passado de Ferenczi a este. Em 1983 Ilse Grubrich-Simitis o encontrou, como podemos verificar ao manusear uma edição de tal manuscrito (2).
A tese apresentada por Freud é a de que o desenrolar de uma neurose pode ter como gênese uma herança arcaica; a referência principal é Totem e Tabu e a morte do pai primevo. Dentro desse contexto, para Freud, a paranoia reconduz a uma fase da evolução da humanidade, na medida em que ela é uma defesa contra o retorno dessa fase, revelando, assim, o medo do pai perseguidor.
Também em Psicologia das massas e análise do eu, no capítulo 10, intitulado “O grupo e a horda primeva”, Freud, ao retomar Totem e tabu, aponta o grupo como revivescência da horda primitiva – grupo no qual o líder é o temido pai primevo, facilitando a instalação da paranoia primordial. Salientemos que Freud, nesse mesmo capítulo, ao falar da hipnose e da transferência presente nesse procedimento, retoma o tema do medo do pai primevo.
Dessa forma, tanto o saber quanto o começo da humanidade miticamente considerada encontram em sua origem a suspeita, a paranoia, a transferência negativa.
Mas importa também assinalar que não devemos ir muito longe na ideia do “elogio à transferência negativa” (3), bem como não devemos ir muito longe em direção ao delírio generalizado.
Maria Cecília Galletti Ferretti
Membro da EBP/AMP (SP) (1) LAURENT, E. As paixões do ser. Publicação da Escola Brasileira de Psicanálise. Bahia e do Instituto de Psicanálise da Bahia. Salvador, Novembro de 2000.
(2) FREUD, S. Overview of the transference neuroses. A newly discovered manuscript. Cambridge e Londres: The Belknap of Harvard University Press, 1987.
(3) LAURENT, op. cit., p. 66. |
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EDITORIAL GREDOS, S. A., 2009, MADRID, GUSTAVO DESSAL (compilador), p. 343.
Alemán, Jorge. “La metamorfosis de la ciencia en técnica: el discurso capitalista” in Las Ciencias Inhumanas. Ao afirmar que a ciência padece do retorno do recalcado e a técnica promove o retorno do foracluído no real, e discorrer sobre a metamorfose da ciência em técnica, estabelecendo uma homologia entre discurso capitalista e técnica, Jorge Alemán introduz novo aspecto em nossos mais recentes debates quanto à relação entre delírio generalizado e atualidade.
A crise do capitalismo demonstra a ausência de qualquer amarração que promova limite, uma barreira ao descontrole do sistema financeiro. Nada opera o Nome-do-Pai, e o que emerge é a hemorragia que nada sutura. Falta o efeito de autoridade simbólica funcionando de forma eficaz. Contudo, aponta Jorge Alemán, paradoxalmente, é o próprio capitalismo que engendra a crise em suas estruturas, até agora capazes de simular regulação.
No discurso capitalista, Lacan – lembra o autor – discorre sobre o dispositivo em que o sujeito é um ente que de nada depende, só está lá para que se conectem todos os lugares. “A essência do discurso capitalista é o rechaço da modalidade ‘impossível’ própria da castração”, assevera.
Ao mesmo tempo em que o capitalismo é um regime inumano, na medida em que a condição humana funda-se no limite da castração, a história do humano ocidental é marcada pela produção de um mais além do limite, um gozo mortífero que excede à própria constituição simbólica.
Trata-se de um discurso que permite considerar a economia de gozo própria da técnica. Jorge Alemán recorre a Heidegger que, no seminário de 1951 “Que significa pensar?” apresenta o axioma “a ciência não pensa”, em defesa da tese de que houve uma metamorfose radical na ciência moderna que ultrapassa e cancela seu limite, transformando-a lentamente em seu “espectro técnico”. Lacan dá um passo a mais ao considerar a ciência como uma “ideologia da supressão do sujeito”.
No campo científico, pontua Jorge Alemán, há um limite próprio àquilo que pretende elaborar. O sujeito do inconsciente se mantém numa “exclusão interna ao discurso científico”, ao passo que a técnica não tem sujeito. “Enquanto a ciência tinha como limite aquilo que precisava excluir para lograr sua própria constituição, a técnica não inclui nem exclui, nem se refere a limite algum”, afirma.
Tanto a técnica quanto o discurso capitalista se apresentam como um saber absoluto, como o fim definitivo da história; de tal forma se “naturalizou” que já não concebe seu próprio exterior.
Haveria um significante novo, que apontaria a um impossível de ser dominado e integrado pela técnica capitalista? Nesse contexto, indaga o autor para concluir, de que forma a psicanálise pode intervir para mostrar que ainda persiste um saber por decifrar?
Daniela de Camargo Barros Affonso
Correspondente da EBP - SP |
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Exposição
O XVIII Encontro Brasileiro do Campo Freudiano da EBP contará com a exposição de um artista que nos toca por sua relação com a obra de Jacques Lacan. Malysse (after) Lacan nos apresenta os “neonlogismos” de Lacan por outra perspectiva. Os grafos e matemas, postos em espaços fora do ambiente psicanalítico, os neons em forma de abajur ou luminárias, reproduzindo os nós tão feitos e refeitos por Lacan, conduzem a outras interpretações. Colocam a público o que Lacan produziu em seu ensino.
Espero que desfrutem!
Rômulo Ferreira da Silva
“Mas qual é ele, o desejo que se pega, que se fixa no quadro? - mas
que, também, o motiva a impulsionar o artista a pôr algo, e o quê, na obra?
Nessa matéria do visível, tudo é armadilha. (...)
Era uma latinha, uma lata de sardinhas. Ela respelhava ao sol. (...)
Tá vendo aquela lata?Tá vendo ? Pois ela não tá te vendo não!.” (Jacques Lacan, Seminário XI, Capítulo VIII – A linha e a luz) Pères-Versões (after Lacan) procura criar uma afiliação artística com o legado de Lacan a partir de uma série de esculturas realizadas pelo antropólogo e artista francês Stéphane Malysse, residente em São Paulo. Essas esculturas luminosas, espelhadas e encaixadas remetem todas ao plagiarismo e ao seu destino no mundo da Arte Contemporânea. Inspirados pelas famosas fórmulas Lacanianas, os neonlogismos são esculturas feitas de neons, giz ou carvão que reativam o poder visual da escrita e convidam o público a mergulhar no universo multidimensional da psicanálise. Colocando em xeque o enigma do dom artístico, essa coleção de objetos e neons pós-lacanianos convida o espectador a ser testemunha, ser aquele que olha, ser cúmplice de uma père-versão transformada em objetos de consumo (artístico):
Neonlogismos, Série de seis neons pós-lacanianos
Boites de Lacâneries, Três esculturas surrealistas.
Os estragos do espelho, Serigrafias sobre espelhos.
Dit-mension lacaniana, Adesivos de lousa psicanalítica.
Lançamento de livros
Prezados colegas,
Na programação do XVIII Encontro Brasileiro do Campo Freudiano, em São Paulo, teremos a oportunidade de realizar o lançamento de livros de autores da EBP, revistas e outras publicações das Seções e Delegações.
Optamos por um lançamento coletivo, na sexta-feira, dia 19/11, após a conclusão dos trabalhos do dia e durante o coquetel no Hotel Maksoud Plaza, com início programado para as 20h00. A Livraria Scriptum, responsável pela montagem da Livraria do Encontro, responsabilizar-se-á pela exposição das obras e vendas das mesmas.
No sábado, ao longo do dia, teremos mais alguns horários destinados ao encontro com os autores para autógrafos.
Solicitamos que entrem em contato, até o dia 30/09/2010, com Heloisa Prado R. S. Telles (helotelles@uol.com.br), da Comissão da Livraria do Encontro, para manifestarem seu interesse e obterem as devidas orientações.
Cordialmente,
Rômulo Ferreira da Silva
Diretor da Escola Brasileira de Psicanálise |
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EBP-SP
No dia 15 de setembro, às 21h00, a EBP-SP receberá o Professor Livre Docente do Departamento de Filosofia da USP, Vladimir Safatle, que apresentará a conferência “Fetichismo: entre a Psicanálise e a teoria social”, coordenada por Rômulo Ferreira da Silva, Diretor Geral da EBP. Antes da conferência, às 20h30, haverá o lançamento do novo livro de autoria do conferencista “Fetichismo – colonizar o Outro”. Essa atividade faz parte do rol de discussões sobre temas abordados no XVIII Encontro Brasileiro do Campo Freudiano. Por ser uma atividade aberta e com vagas limitadas solicita-se que a inscrição seja antecipada. Informações:ebpsp@uol.com.br, tel (11) 3081-8947, Rua João Moura, 627 (mezanino), Pinheiros, São Paulo (SP).
EBP-Seção Pernambuco (em formação)
A EBP-Seção Pernambuco (em formação) realizará nos dias 17 e 18 de setembro sua V Jornada “O que será o delírio generalizado?”. Na sexta-feira, dia 17, no período da manhã, haverá uma pré-jornada cujo tema é “O infantil na cidade: a inclusão do social”, com as mesas: O infantil na cidade: a inclusão do social; O infantil na clínica; Encontro interdisciplinar com Cristina Pitella de Matos, Membro da EBP-MG e AMP. No período da tarde, a partir das 15h30, terão início as atividades da V Jornada com as mesas “O que será o delírio generalizado?” e “O delírio generalizado na clínica psicanalítica”. No sábado, dia 18, no período da manhã, haverá duas mesas com apresentação de trabalhos desenvolvidos em Cartéis. No período da tarde, a mesa “A formação do analista” contará com a participação de Antonio Beneti, presidente do Conselho da EBP, AME e Membro da EBP-MG e Angelina Harari, AE, AME e Membro da EBP-SP. Na sequência, será apresentada a Revista Letra Clínica e, após o intervalo, Angelina Harari fará seu depoimento de passe. No Memorial de Medicina, à rua Amaury de Medeiros 206, Deby, Recife (PE). |
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BIBLIOTECA
As pesquisas bibliográficas estarão disponíveis, para consulta, no site www.ebp.org.br/encontro2010.
AUTORES
PUBLICAÇÕES DO CAMPO FREUDIANO
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CATEGORIAS | Até 30 de Outubro |
Profissionais da rede pública, estudantes de graduação e pós-graduação (até 26 anos) e alunos dos Institutos do Campo freudiano | R$ 330,00 |
Membros e Aderentes da EBP, Correspondentes e profissionais | R$ 360,00 |
Dados para efetuar o depósito:
Banco Itaú (341) - Agência: 0188 - C/C: 76440-1
Em nome de: Escola Brasileira de Psicanálise – São Paulo
CNPJ: 02.252.068/0001-93
IMPORTANTE: Enviar o comprovante por e-mail para ebp@ebp.org.br ou pelo fax (11) 3081-4327.
Ainda será possível fazer a inscrição em três parcelas, com cheques pré-datados a serem enviados, via sedex, após prévio contato com a secretaria da EBP (ebp@ebp.org.br) ou entregues a |
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