06/04/2011, 19:16
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Žižek volta ao Brasil em maio. Além do lançamento do seu ultimo livro publicado aqui – já um sucesso de vendas, Em defesa das causas perdidas -, vai lançar também outro, mais recente: Primeiro como tragédia, depois como farsa.
Há dois anos, quando aqui esteve pela ultima vez, Žižek teve auditórios cheios, com gente pop e milhares de jovens. Na UFRJ, quando foi aplaudido de pé ao final da conferência, ele se levantou, pediu silêncio, e disparou: “Chega. Guardem energias para quando chegar o comunismo.”
Ninguém produz tanto e com obras tão recheadas de ideias como Žižek hoje. Ele – junto com Domenico Losurdo – não se furta a agarrar os temas mais espinhosos e tratar de encará-los de maneira criativa, valendo-se do marxismo, da psicanálise, da antropologia, da filosofia e, sempre, da sua vasta cultura cinematográfica – com o gosto evidente de um cultor do cinema.
No seu livro Em defesa das causas perdidas, por exemplo, ele encara temas como o terror revolucionário, analisando textos de Robespierre – elemento que ele tem em comum com Álvaro García Linera que, no seu belíssimo livro A potência plebeia, que ele veio lançar em novembro passado no Brasil, acrescentou na nova edição imponente citação do jacobino francês – e de Mao. “Nesta era pós-moderna de ‘propriedades emergentes’, de integração caótica de múltiplas subjetividades, de interação livre ao invés de hierarquia centralizada, de multiplicidade de opiniões em vez de uma única Verdade, a ditadura jacobina não é fundamentalmente do ‘nosso agrado’”. Como sempre, ele destrincha o significado de questões tornadas malditas, sem necessariamente ficar do seu lado, mas aborda, sem preconceitos, temas tornados tabus pelo pensamento único e pela onda conservadora que o acompanhou no mundo. “A única alternativa à morna posição defensiva de sentir-se culpado diante dos críticos liberais ou de direita é: temos de fazer o trabalho critico melhor que os adversários.” Ela não poderia deixar de analisar, no capítulo seguinte, o stalinismo, sem preconceitos e com espírito critico, de esquerda.
Žižek é dos autores de que eu leio tudo o que consigo ter à mão – atitude que também tenho com meus outros autores contemporâneos preferidos: Perry Anderson, Mike Davis, Eduardo Galeano, Álvaro García Linera – porque sempre saio enriquecido da sua leitura. Concordando ou não, me incitam a pensar e a repensar, a voltar a velhos temas de maneira inovadora ou a colocar questões que eu nem tinha me posto.
Žižek escreve muito, viaja muito, faz muitas conferências, dá muitas entrevistas, vê muito filmes, lê muito. Difícil imaginar como ele consegue fazer tudo isso – e muito bem – ao mesmo tempo. O resultado é riquíssimo. Seus livros se multiplicam pelo mundo afora, sempre com sucesso e polêmicas.
Sua nova vinda ao Brasil será, sem dúvida, um grande acontecimento intelectual e político. É um provocador, no melhor sentido da palavra – de provocar o debate, a revisão de clichês, de saber se situar contra a corrente, de enfrentar temas que outros abandonaram, sob a pressão da mídia conservadora. Vale sempre a pena ler e ouvir Žižek, interlocutor obrigatório de quem não tem medo da realidade do presente, do passado e do futuro.
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Emir Sader nasceu em São Paulo, em 1943. Formado em Filosofia pela Universidade de São Paulo, é cientista político e professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP). É secretário-executivo do Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais (Clacso) e coordenador-geral do Laboratório de Políticas Públicas da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj). Coordena a coleção Paulicéia, publicada pela Boitempo, e organizou ao lado de Ivana Jinkings, Carlos Eduardo Martins e Rodrigo Nobile a Latinoamericana – enciclopédia contemporânea da América Latina e do Caribe (São Paulo, Boitempo, 2006), vencedora do 49º Prêmio Jabuti, na categoria Livro de não-ficção do ano. Colabora para o Blog da Boitempo quinzenalmente, às quartas-feiras.
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