Caros colegas
Nesta semana, em Floripa, na UFSC (auditório do curso de Direito), acontece o evento do Grupo de Pesquisa LITERATO, sob a coordenação de Luis Carlos Cancellier de Olivo. O evento conta com gente muito séria e vale a pena conferir.
Falarei sobre a Loucura de Mário de Sá-Carneiro
Adriana Calcanhoto musicou um dos poemas dele. CLIQUE AQUI
Resumo da Obra LOUCURA abaixo
"Loucura (extraído do link netsaber
(mário de sá-carneiro)
O narrador narra a história da vida do seu maior amigo, explica as razões que o conduziram a loucura do suicídio. Raul era o contrário de todos os rapazes, evidenciava ideias loucas e por vezes sinistras. Aos olhos do seu grande amigo, Raul era um grande artista, um excelente rapaz mas também uma incompreensível criatura. Num baile ao qual veio a acompanhar o seu amigo conheceu o grande amor da sua vida, a Marcela, com quem veio a casar e encontrar a felicidade a qual não acreditava. A Marcela era uma mulher linda e encantador, era o sonho de qualquer homem. O Raul orgulhava-se de a ter ao seu lado. Eles amavam-se não como dois esposos que eram mas como dois amantes. Eles não se envergonhavam de agir como dois animais. A liberdade da paixão era o essencial para serem felizes. Após o seu casamento Raul não dava aquela visão perturbada de um louco, parecia mudado mas a sua loucura veio a dar o seu sinal de luz um pouco mais tarda. Raul veio a praticar o acto imperdoável com a Luísa. A Marcela veio a descobrir da traição do marido e desde lá passou a desconfiar do marido, dos seus sentimentos por ela até ao dia que voltou a acreditar nele. Mesmo a Marcela afirmando acreditar no amor que o Raul dizia sentir por ela, ele prometo-lhe dar uma prova do seu amor. O sentimento de culpa por não conseguir provar realmente o quanto amava a sua mulher e a ideia de envelhecer andou a perturbar-lhe a cabeça até encontrar uma solução para o problema. O Raul achava que um homem só amava uma mulher por esta ser bonita, pela sua aparência e que ninguém amava uma mulher feia, de um corpo encarquilhado. Então ele quis provar a Marcela que mesmo que ela fosse feia ele continuaria a gostar dela como se ela fosse bonita e formosa. O seu amor por ela era um sentimento tão forte, tão verdadeiro que era capaz de a amar sendo ela feia. Para provar o seu amor ele quis demonstrar da maneira mais horrível, tirando a Marcela a sua beleza com um frasco de uma substância que lhe queimaria a cara e o resto do corpo fazendo dela uma mulher feia que só ele amaria. A sua loucura não foi conseguida e acabou por se suicidar ao beber o frasco. Amar mais que um simples corpo, uma aparência. Era sem dúvida a maior prova de amor. Amar da maneira que o Raul queria amar, era uma loucura. A sua prova de amor foi quas
e perfeito não fosse a sua loucura estragar tudo."
Fernando Pessoa mandou uma carta...
"Fernando Pessoa
Livro do Desassossego
Carta a Mário de Sá-Carneiro
Escrevo-lhe hoje por uma necessidade sentimental - uma ânsia aflita de falar consigo. Como de aqui se depreende, eu nada tenho a dizer-lhe. Só isto - que estou hoje no fundo de uma depressão sem fundo. O absurdo da frase falará por mim.
Estou num daqueles dias em que nunca tive futuro. Há só um presente imóvel com um muro de angústia em torno. A margem de lá do rio nunca, enquanto é a de lá, é a de cá; e é esta a razão íntima de todo o meu sofrimento. Há barcos para muitos portos, mas nenhum para a vida não doer, nem há desembarque onde se esqueca. Tudo isto aconteceu há muito tempo, mas a minha mágoa é mais antiga.
Em dias da alma como hoje eu sinto bem, em toda a minha consciência do meu corpo, que sou a crianca triste em quem a vida bateu. Puseram-me a um canto de onde se ouve brincar. Sinto nas mãos o brinquedo partido que me deram por uma ironia de lata. Hoje, dia catorze de Marco, às nove horas e dez da noite, a minha vida sabe a valer isto.
No jardim que entrevejo pelas janela caladas do meu sequestro, atiraram com todos os baloucos para cima dos ramos de onde pendem; estão enrolados muito alto; e assim nem a ideia de mim fugido pode, na minha imaginacão, ter baloucos para esquecer a hora.
Pouco mais ou menos isto, mas sem estilo, é o meu estado de alma neste momento. Como à veladora do "Marinheiro" ardem-me os olhos, de ter pensado em chorar. Dói-me a vida aos poucos, a goles, por interstícios. Tudo isto está impresso em tipo muito pequeno num livro com a brochura a descoser-se.
Se eu não estivesse escrevendo a você, teria que lhe jurar que esta carta é sincera, e que as coisas de nexo histérico que aí vão saíram espontâneas do que me sinto. Mas você sentirá bem que esta tragédia irrepresentável é de uma realidade de cabide ou de chávena - chia de aqui e de agora, e passando-se na minha alma como o verde nas folhas.
Foi por isto que o Príncipe não reinou. Esta frase é inteiramente absurda. Mas neste momento sinto que as frases absurdas dão uma grande vontade de chorar.
Pode ser que, se não deitar hoje esta carta no correio amanha, relendo-a, me demore a copiá-la à máquina, para inserir frases e esgares dela no "Livro do Desassossego". Mas isso nada roubará à sinceridade com que a escrevo, nem à dolorosa inevitabilidade com que a sinto.
As últimas notícias são estas. Há também o estado de guerra com a Alemanha, mas já antes disso a dor fazia sofrer. Do outro lado da Vida, isto deve ser a legenda duma caricatura casual.
Isto não é bem a loucura, mas a loucura deve dar um abandono ao com que se sofre, um gozo astucioso dos solavancos da alma, não muito diferentes destes.
De que cor será sentir?
Milhares de abracos do seu, sempre muito seu,
FERNANDO PESSOA
P.S. - Escrevi esta carta de um jacto. Relendo-a, vejo que, decididamente, a copiarei amanha, antes de lha mandar. Poucas vezes tenho tão completamente escrito o meu psiquismo, com todas as suas atitudes sentimentais e intelectuais, com toda a sua histero-neurastenia fundamental, com todas aquelas intersecções e esquinas na consciência de si-próprio que dele são tao características...
Você acha-me razão, não é verdade?
(em 14 de Marco de 1916)
Carta a João Gaspar Simões
(...) Estou comecando - lentamente, porque não é coisa que possa fazer-se com rapidez - a classificar e rever os meus papéis; isto com o fim de publicar, para fins do ano em que estamos, um ou dois livros. Serão provavelmente ambos em verso, pois não conto poder preparar qualquer outro tão depressa, entendendo-se preparar de modo a ficar como eu quero.
Primitivamente, era minha intencão comecar as minhas publicações por três livros, na ordem seguinte: (1) Portugal, que é um livro pequeno de poemas (tem 41 ao todo), de que o Mar Português (Contemporânea 4) é a segunda parte; (2) Livro do Desassosego (Bernardo Soares, mas subsidiariamente, pois que o B. S. não é um heterónimo, mas uma personalidade literária); (3) Poemas Completos de Alberto Caeiro (com o prefácio de Ricardo Reis, e, em posfácio, as Notas para a Recordacão do Álvaro de Campos). Mais tarde, no outro ano, seguiria, só ou com qualquer livro, Cancioneiro (ou outro título igualmente inexpressivo), onde reuniria (em Livros I a III ou I a V) vários dos muitos poemas soltos que tenho, e que são por natureza inclassificáveis salvo de essa maneira inexpressiva.
Sucede, porém, que o Livro do Desassossego tem muita coisa que equilibrar e rever, não podendo eu calcular, decentemente, que me leve menos de um ano a fazê-lo. E, quanto ao Caeiro, estou indeciso. (...)
(em 28 de Julho de 1932)
Carta a Adolfo Casais Monteiro
(...) Como escrevo em nome desses três?... Caeiro por pura e inesperada inspiracão, sem saber ou sequer calcular que iria escrever. Ricardo Reis, depois de uma deliberacão abstracta que subitamente se concretiza numa ode. Campos, quando sinto um súbito impulso para escrever e não sei o quê. O meu semi-heterónimo Bernardo Soares que aliás em muitas coisas se parece com Álvaro de Campos, aparece sempre que estou cansado ou sonolento, de sorte que tenha um pouco suspensas as qualidades de raciocínio e de inibicão; aquela prosa é um constante devaneio. É um semi-heterónimo porque, não sendo a personalidade a minha, é, não diferente da minha, mas uma simples mutilacão dela. Sou eu menos o raciocínio e a afectividade. A prosa, salvo o que o raciocínio dá de "ténue" à minha, é iqual a esta, e o português perfeitamente igual; ao passo que Caeiro escrevia mal o português, Campos razoavelmente mas com lapsos como dizer "eu próprio" em vez de "eu mesmo", etc., Reis melhor do que eu, mas com um purismo que considero exagerado. (...)
(em 13 de Janeiro de 1935)
Pessoa, Fernando, Livro do Desassossego por Bernardo Soares, recolha e
transcricão dos textos: Maria Aliete Galhoz, Teresa Sobral Cunha,
prefácio e organizacão: Jacinto Prado Coelho, Ática, Lisboa 1982,"
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04/06/2010
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