Lendo para o Seminário em Curitiba, dia 02.10...
"(...) Isto nos conduz ao segundo tempo da estratégia, que é mais precisamente como um instante, instante de ver. Isto se passa à noite - à noite onde o saber não chega a calar a verdade, à noite onde o sonho pode tornar-se pesadelo. O que toma de assalto esta mulher não é o sonho, mas um pensamento que coloca em causa todo o equilíbrio da conferência que lhe tinha permitido um sucesso: "Não cometi uma gafe?" pergunta-se ela. E o momento carregado de angústia sublinha o real que ela afronta. O real segue-se a este momento de inscrição no simbólico esperando um ponto de encontro próprio ao discurso. O simbólico acentuou o leito do real. A "gafe" que se impôs à ela é o significante que o diz. E ele diz, que nesta cadeia significante que ela soube tão bem desdobrar há um rasgo, uma brecha, uma fissura. Sabe-se que esta coisa "inapropriada" a representa no inconsciente, no momento mesmo em que ela encontra uma identidade... como homem. Mas esta nova repre sentação está despida para ela de significação. Não pertence ao seu registro simbólico e sobretude demonstra uma proximidade com o objeto que ele mesmo não se encontra no simbólico. Esta "gafe" é um traço único. Ele significa para o sujeito a barra que o impede de se realizar todo inteiro na linguagem, daí a angústia que a divisão produz nesta mulher. É como se uma pequena voz lhe dissesse: "você não o é". O sucesso, o reconhecimento, o status social não esgotam sua falta. Suas conferências não lhe permitem sustentar a ilusão de que ela tem o falo. O objeto se revela desfeito de sua aparência significante".
(Quando as mulheres só podem se afirmar faltando, Dominique Miller, tradução de Selene Kepler)
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