XX ENCONTRO BRASILEIRO DO CAMPO FREUDIANO
TRAUMA NOS CORPOS, VIOLÊNCIA NAS CIDADES
Belo Horizonte, 21 a 23 de novembro de 2014
Argumento
Duas expressões – “trauma nos corpos” e “violência nas cidades” – compõem o título do próximo Encontro promovido pela Escola Brasileira de Psicanálise (EBP). Em um país como o Brasil, mas sem que as reduzamos a essa dimensão nacional e geográfica, elas podem ser apreendidas por uma relação do tipo causa-efeito: em uma versão mais midiática (ou mesmo estatística), é dito que a violência nas cidades provoca trauma nos corpos ou, ainda, por um viés, digamos, mais psicológico, afirma-se que o trauma dos corpos produz violência. Por sua vez, a psicanálise de orientação lacaniana convoca-nos a outro tipo de leitura: “violência nas cidades” comporta, sem dúvida, o que se passa no âmbito do “espaço público” enquanto que “trauma nos corpos” aponta mais particularmente para um “espaço privado”, mas Lacan, desde sua “Proposição sobre o psicanalista da Escola” (1967), ensina que, da “hiância” mais íntima da experiência analítica, perfila-se o “horizonte” do que é extensível para a psicanálise. Assim, com Lacan, nos distanciamos da relação linear e planificada do tipo causa-efeito para afirmar uma topologia na qual a apresentação da violência na cena pública poderá ser abordada levando em conta o que se passa de modo não menos exterior (porque também estranho, invasivo e dilacerante) na intimidade do que traumatiza os corpos (e a qual temos acesso pela experiência clínica com o um por um).
Interessa-nos, então, no XX Encontro Brasileiro do Campo Freudiano, sustentar seminários, trabalhos e discussões em que a elucidação do trauma nos corpos empreendida ao longo de experiências de análises contribua para a tematização e a produção de respostas para a violência nas cidades. Igualmente interessa-nos, ao longo desse mesmo Encontro, averiguar em que e como tal violência interroga a experiência psicanalítica que procura responder ao trauma dos corpos se valendo da fala cujo silenciamento é o que, muitas vezes, deflagra a violência. Na 26ª lição do Seminário 5, Lacan distingue a violência e agressividade porque a primeira, sendo “exatamente o contrário” da fala, não teria como ser “recalcada”, “simbolizada” e, portanto, extrapola “o que é analisável, ... interpretável”. Ora, Lacan tampouco deixará de afirmar (sobretudo no que Jacques-Alain Miller lhe tem destacado como “o último ensino”) o quanto a experiência analítica – segundo também testemunham os Analistas da Escola (AE) a propósito dos finais de suas próprias análises – implica encontrar novos modos de viver a pulsão e o que dos sintomas resta como avesso ao recalque, alheio ao símbolo, refratário à interpretação, opaco à decifração analítica, apresentando-se como “pedaços de real” inassimiláveis ao que faz sentido, mas que tocam o corpo e dão-lhe um sentido (tomado, aqui, como orientação). Certamente, esses novos modos de vida e esses restos sintomáticos em jogo na experiência analítica, mesmo se confrontando com um limite da fala e comportando outras leituras do que é traumático nos corpos, não são propriamente qualificáveis de violentos, mas sua elucidação parece-nos profícua para abordarmos a irrupção da violência nas cidades.
Nas diferentes atividades propostas para o XX Encontro Brasileiro do Campo Freudiano, visamos a considerar, portanto, “trauma nos corpos” e “violência nas cidades” como expressões provenientes de espaços diferentes e que ganham, com a psicanálise de orientação lacaniana, uma abordagem que, compartilhando elementos e noções, confere-lhe usos que podem chegar a ser radicalmente diversos no âmbito público e no âmbito privado sem deixarem de ter, entre si, uma inquietante proximidade. Desses elementos e noções, para concluir este argumento e almejar sua elucidação ao longo da preparação e da própria realização do XX Encontro Brasileiro do Campo Freudiano, destacamos: a nomeação concernente à satisfação pulsional, ao gozo e o que se impõe como inominável; a declinação (a ser tomada como “decadência” e como “variação de forma”) dessa referência que é o Nome-do-Pai como Outro da Lei; os confrontos com o supereu materno; os destinos do amor (inclusive quando ele toma a face mais obscura do ódio ou mesmo quando ele “acaba”); as respostas aos acontecimentos imprevistos; as funções da fala e do falo; a proliferação da exceção que a dilui ou a isola na solidão; as diferenças sexuais.
Sérgio Laia – Coordenador da Comissão Científica
Atividades
A programação do XX Encontro Brasileiro será composta de Plenárias e de apresentações de trabalhos em Mesas Simultâneas. Desta vez, contaremos ainda com Entrevistas, bem como com Seminários de AME (Analistas Membros da Escola) e trabalhos provenientes de cartéis da EBP. Os textos para as Mesas Simultâneas e os Seminários de AME serão selecionados. Um eixo temático das Mesas Simultâneas – Os destinos do amor – será dedicado especialmente a contribuições provenientes de cartéis da EBP.
Serão divulgadas em breve informações mais detalhadas sobre essas atividades, seus formatos e, quando for o caso, prazo para seu envio e diretrizes do processo de seleção.
Eixos Temáticos
As atividades do XX Encontro Brasileiro do Campo Freudiano vão se nortear pelos seguintes temas:
- A solidão do Um nos corpos e nas cidades
- O mal, sua marca nos corpos, e a vida
- Os destinos do amor
- Psicologia das massas, análise do eu... e a deriva das pulsões
Em breve, também divulgaremos as ementas de cada um desses eixos temáticos.
Presidência, Diretoria e Coordenações
Marcelo Veras (Presidente)
Henri Kaufmanner (Diretor)
Fernanda Otoni Brisset (Coordenação)
Ana Lydia Santiago (Comissão do Passe)
Helenice de Castro e Glacy Gorski (Comissão da Tesouraria)
Lilany Vieira Pacheco (Comissão de Mídia e Divulgação)
Luciana Silviano Brandão (Comissão de Infraestrutura)
Maria Rachel Botrel (Comissão de Acolhimento)
Miguel Antunes (Comissão de Parcerias)
Mônica Campos Silva (Comissão da Livraria)
Sérgio Laia (Comissão Científica)
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