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26/11/2010

A Guerra do Rio - A farsa e a geopolítica do crime, por José Claudio Souza Alves

A Guerra do Rio – A farsa e a geopolítica do crime




Dr. José Cláudio Souza Alves

Sociólogo, Porfessor da UFRRJ - Seropédica, RJ - 25/11/2010

Nós que sabemos que o “inimigo é outro”, na expressão padilhesca, não podemos acreditar na farsa que a mídia e a estrutura de poder dominante no Rio querem nos empurrar.

Achar que as várias operações criminosas que vem se abatendo sobre a Região Metropolitana nos últimos dias, fazem parte de uma guerra entre o bem, representado pelas forças publicas de segurança, e o mal, personificado pelos traficantes, é ignorar que nem mesmo a ficção do Tropa de Elite 2 consegue sustentar tal versão.

O processo de reconfiguração da geopolítica do crime no Rio de Janeiro vem ocorrendo nos últimos 5 anos.

De um lado Milícias, aliadas a uma das facções criminosas, do outro a facção criminosa que agora reage à perda da hegemonia.

Exemplifico. Em Vigário Geral a polícia sempre atuou matando membros de uma facção criminosa e, assim, favorecendo a invasão da facção rival de Parada de Lucas. Há 4 anos, o mesmo processo se deu. Unificadas, as duas favelas se pacificaram pela ausência de disputas. Posteriormente, o líder da facção hegemônica foi assassinado pela Milícia. Hoje, a Milícia aluga as duas favelas para a facção criminosa hegemônica.

Processos semelhantes a estes foram ocorrendo em várias favelas. Sabemos que as milícias não interromperam o tráfico de drogas, apenas o incluíram na listas dos seus negócios juntamente com gato net, transporte clandestino, distribuição de terras, venda de bujões de gás, venda de voto e venda de “segurança”.

Sabemos igualmente que as UPPs não terminaram com o tráfico e sim com os conflitos. O tráfico passa a ser operado por outros grupos: milicianos, facção hegemônica ou mesmo a facção que agora tenta impedir sua derrocada, dependendo dos acordos.

Estes acordos passam por miríades de variáveis: grupos políticos hegemônica na comunidade, acordos com associações de moradores, voto, montante de dinheiro destinado ao aparado que ocupa militarmente, etc.

Assim, ao invés de imitarmos a população estadunidense que deu apoio às tropas que invadiram o Iraque contra o inimigo Sadam Husein, e depois, viu a farsa da inexistência de nenhum dos motivos que levaram Bush a fazer tal atrocidade, devemos nos perguntar: qual é a verdadeira guerra que está ocorrendo?

Ela é simplesmente uma guerra pela hegemonia no cenário geopolítico do crime na Região Metropolitana do Rio de Janeiro.

As ações ocorrem no eixo ferroviário Central do Brasil e Leopoldina, expressão da compressão de uma das facções criminosas para fora da Zona Sul, que vem sendo saneada, ao menos na imagem, para as Olimpíadas.

Justificar massacres, como o de 2007, nas vésperas dos Jogos Pan Americanos, no complexo do Alemão, no qual ficou comprovada, pelo laudo da equipe da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República, a existência de várias execuções sumárias é apenas uma cortina de fumaça que nos faz sustentar uma guerra ao terror em nome de um terror maior ainda, porque oculto e hegemônico.

Ônibus e carros queimados, com pouquíssimas vítimas, são expressões simbólicas do desagrado da facção que perde sua hegemonia buscando um novo acordo, que permita sua sobrevivência, afinal, eles não querem destruir a relação com o mercado que o sustenta.

A farça da operação de guerra e seus inevitáveis mortos, muitos dos quais sem qualquer envolvimento com os blocos que disputam a hegemonia do crime no tabuleiro geopolítico do Grande Rio, serve apenas para nos fazer acreditar que ausência de conflitos é igual à paz e ausência de crime, sem perceber que a hegemonização do crime pela aliança de grupos criminosos, muitos diretamente envolvidos com o aparato policial, como a CPI das Milícias provou, perpetua nossa eterna desgraça: a de acreditar que o mal são os outros.

Deixamos de fazer assim as velhas e relevantes perguntas: qual é a atual política de segurança do Rio de Janeiro que convive com milicianos, facções criminosas hegemônicas e área pacificadas que permanecem operando o crime? Quem são os nomes por trás de toda esta cortina de fumaça, que faturam alto com bilhões gerados pelo tráfico, roubo, outras formas de crime, controles milicianos de áreas, venda de votos e pacificações para as Olimpíadas? Quem está por trás da produção midiática, suportando as tropas da execução sumária de pobres em favelas distantes da Zona Sul? Até quando seremos tratados como estadunidenses suportando a tropa do bem na farsa de uma guerra, na qual já estamos há tanto tempo, que nos faz esquecer que ela tem outra finalidade e não a hegemonia no controle do mercado do crime no Rio de Janeiro?

Mas não se preocupem, quando restar o Iraque arrasado sempre surgirá o mercado finaneiro, as empreiteiras e os grupos imobiliários a vender condomínios seguros nos Portos Maravilha da cidade.

Sempre sobrará a massa arrebanhada pela lógica da guerra ao terror, reduzida a baixos níveis de escolaridade e de renda que, somadas à classe média em desespero, elegerão seus algozes e o aplaudirão no desfile de 7 de setembro, quando o caveirão e o Bope passarem.

2 comentários:

  1. Pedro K Córdova disse:

    Interessante, eu estava treinando para uma dissertação de um concurso por vir, exatamente sobre o tema em comento, quando passo aqui para visitar esse blog, o que faço com alguma assiduidade. O que conforta é que não estamos sozinhos... de toda forma:

    A pobreza é a mãe do crime e da revolução (Política) – advertia Aristóteles há mais de dois milênios-. Todavia, passados esses mais de dois mil anos, parece que não tomamos por verdadeiras – ou ao menos digna de algum crédito- essa cônscia assertiva filosófica. Na companhia do pensamento aristotélico, investiguemos essa situação, até poderíamos dizer: iraquiana, que vive a população do Rio de janeiro.

    Esse estado de guerra, sabe-se, não é produto somente da contemporaneidade. Consiste num gradual processo de construções de fatores sociais e ecônomicos que eclodiram neste cenário de horror que toma de assalto o noticiário nacional e que todos ajudamos indiretamente e inconscientemente a edificar.

    Desenganadamente, quando desviamos o foco dos reais motivos que levam a situação em apreço, quer seja; o não provimento de condições de dignidade aos brasileiros, quando fazemos tábua-rasa dos Direitos Sociais e da Ordem Social insculpida no Texto Magno, e os visualizamos como mero pragmatismo Constitucional , estamos fornecendo combustível altamente inflamável para a explosão que atônitos assistimos. A profecia aristotélica emerge tão clara quanto um dia de sol em Copacabana. Ainda assim, estamos convencidos de que o problema não reside na providência necessária do Estado à população miserável, onde a presença estatal dá-se somente através dos “caverões” da vida, do direito penal e na benemerência dos programas assistenciais, importantes numa sociedade pauperizada, mas longe de tornar cidadãos de direitos.

    É imperioso outra postura no trata do crime e as causas subjacentes à questão dessa criminalidade. A preocupação na construção de uma sociedade que não sonegue as promessas da modernidade (por todos, Lênio Streck) torna-se real a cada dia e afirma-se nesses momentos de guerra civil, tal qual se observa no Rio de Janeiro. Parece que deixar as leis penais e a repressão para nossos compatriotas desafortunados não esta resultando na melhor das políticas sociais e públicas.
    Inclusão, educação e democratização de oportunidades é a lição de casa que há muito tempo permanecemos sem fazer. O resultado imediato é a pobreza; o mediato é a criminalidade e estado de guerra de que estamos a mencionar. A premissa que se socorre o pensamento do grande filósofo para justificar a questão da criminalidade, analisando os nossos dias, resta, apesar de pensada a tanto tempo, mais atual do que nunca.

    Um abraço!

    Pedro

    Ps. Não me achei em nenhum perfil!

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  2. É a maquiagem das elites. Sabemos que todo esse terror tem donos, tem chefes, tem uma orquestração dos que aparecem constantemente na mídia, ostentando seus ternos e suas éticas. Toda essa festa midiática não é à toa. Sabemos que o tráfico não serve só como instrumento de dominação das facções que dele se beneficiam, mas, e principalmente, dos que lucram verdadeiramente com ele. Lucram não somente financeiramente, mas, sobretudo, em prestígio, poder e notoriedade. Na beira dos grandes eventos esportivos, algo precisava ser feito para que a opinião pública (falo da mundial)sentisse no Brasil a segurança necessária e energia de iniciativa das autoridades que brasileiras. As liberações escusas para liberar esse ou aquele cartel, essa ou aquele área, as tomadas das forças policiais de pontos de tráficos, tudo isso jogadas armadas e estudadas cuidadosamente depois de negociatas do maior tráfico que existe: o de influência. Os policiais pensam que são corruptos (e muitos são), mas são, deliberadamente, direcionados a se corromper. Tudo se interliga. Os testas-de-ferro estão nas prisões federais até que seus mentores os tirem de lá. Grandes traficantes. Que ilusão! Grandes almas sebosas que agora pagam por servir o "bem". Nosso sistema induz que o horror exista para que existam os que possam dele se servir, seja de um lado ou do outro (traficantes e usuários, de um, e políticos, empresários e mídia do outro), mas todos juntos, onde esses últimos são os grandes maestros dessa sinfonia que toca para um público que assiste mas não entende nada, mas pagam pra ver. Parabéns pelo excelente post. Grande abraço.

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