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06/11/2012

Os múltiplos usos de Lacan - O GLOBO


Os múltiplos usos de Lacan

O que pode haver em comum entre o filósofo francês Alain Badiou, a feminista norte-americana Judith Butler, o pensador pop Slavoj Žižek, e a jurista Drucila Cornell? O interesse pelo pensamento do psicanalista francês Jacques Lacan (1901-1981), cada vez mais lido não apenas como um psicanalista que, a partir da Conferência de Roma, em 1950, se dedicou a revigorar o pensamento de Freud, mas também como um teórico social capaz de antecipar algumas das questões do século XXI. O crescente interesse por Lacan para além das escolas de psicanálise se dá, principalmente, nos departamentos de Filosofia e pode ser percebido no lançamento de três livros: “Estilo e verdade em Jacques Lacan” (Autêntica), do professor da Universidade Federal de Ouro Preto, Gilson Iannini; “Grande Hotel Abismo” (Martins Fontes), do professor da USP, Vladimir Safaltle e “Lacan passado presente” (Difel), de Alain Badiou e Élisabeth Roudinesco, relatos pessoais da convivência com o pensador francês. 

Filosofia e clínica 

Iannini e Safatle integram, com professores brasileiros como Claudio Oliveira (UFF) e Antonio Teixeira (UFMG), a Sociedade Internacional de Psicanálise e Filosofia, associação de filósofos e psicanalistas interessados em discutir as repercussões filosóficas da psicanálise e seus pressupostos filosóficos. Reúne pesquisadores ligados a universidades na Europa, nos EUA, em Israel e no Japão, e promove encontros internacionais a cada dois anos. O próximo acontece em novembro, no Chile, e é um dos indicadores do crescente interesse pelos estudos de Lacan na filosofia, voltados para refletir sobre as duas máximas que marcariam a obra do psicanalista. 

“Há verdade” e “não há verdade da verdade” são os dois axiomas sobre os quais Iannini se debruçou para escrever “Estilo e verdade em Jacques Lacan”. Para ele, entender Lacan é entender essa dupla exigência, desse limite tênue. 

— Caso contrário, a tentação de representá-lo como um mestre da verdade, uma espécie de profeta capaz de “antecipar” o que está acontecendo agora ou, por outro lado, como um impostor pós-moderno é muito grande. Mesmo entre seus seguidores — argumenta Iannini, cujo livro aponta uma leitura de Lacan dentro desta articulação entre psicanálise e filosofia. — Lacan foi certamente o psicanalista que tomou para si a tarefa de responder à pergunta acerca das repercussões do acontecimento psicanálise para a razão e suas estruturas. Foi assim que ele cunhou o provocativo sintagma “a razão desde Freud”. Isso não faz dele um filósofo. Seu campo de atuação continua sendo a psicanálise, mas passa, de maneira instigante e produtiva, pela filosofia — diz. 

Uma medida do interesse por Lacan na Filosofia está na afirmação de Badiou que “nenhum filósofo contemporâneo pode ser considerado importante se não se confrontou com a interpretação lacaniana da filosofia”. E, numa provocação aos psicanalistas, completa: “A psicanálise é muito séria para ser deixada na mão de psicanalistas”, numa boutade que indica também a rixa entre os estudiosos de Lacan na filosofia e na clínica psicanalítica. 


Psicanálise como resistência 


Avesso ao academicismo filosófico e se mantendo na clínica psicanalítica como lugar de resistência, Lacan vem se tornando um autor multidisciplinar. Como lembra Iannini, Lacan é lido nos estudos literários e de gênero e tratou de temas que interessam à psicologia, psicanálise, filosofia, linguística, estudos feministas, direito, educação, religião. 

— Lacan tratou, com originalidade e rigor, temas como a feminilidade, a sexualidade, mas também a verdade, a subjetividade, a linguagem. Fez incursões na lógica, na poesia, na epistemologia, na religião. Os resultados de tantas incursões é, naturalmente, desigual — reconhece Iannini. 

Autor de uma obra vasta, mas também de muitas histórias curiosas a seu respeito — o psicanalista deu origem a termos como “lacanagem” ou “lacanês”, este último uma referência ao caráter hermético de seus textos —, o pensamento de Lacan mantém uma potência crítica que, na avaliação de Iannini, “deriva de uma estratégia de formalização do campo conceitual que chega à ideia de não-todo”. Depois de Lacan, Iannini acredita que a filosofia pode interrogar “seu desejo mortífero pela totalidade e pelo absoluto, sem desorientar-se no pensamento”. Lacan forneceria, assim, instrumentos para pensar uma lógica da incompletude, beneficiando a filosofia contemporânea com seu trabalho. 

— Nem que seja para economizar algumas de suas pretensões descabidas, como a discussão da essência da verdade ou sua fundamentação, do sentido do sentido, assim como para afastar algumas perspectivas obsoletas, como as ideias de uma subjetividade fundada na transparência da consciência e da vontade, ou mesmo, certas ideias da filosofia da mente, calcadas em uma psicologia cognitiva cujos compromissos ideológicos com a hipóstase de certas formas de vida não pode ser escondida — conclui Iannini. 

Todas estas leituras em tantas áreas contrastam, no entanto, com a percepção de que Lacan foi um pensador solitário no século XX, hipótese que Iannini defende no livro. Seu argumento é que, na filosofia do século XX, aqueles que questionaram a possibilidade de fundamentação da verdade acabaram abandonando a própria ideia de verdade. Por outro lado, aqueles que mantiveram a centralidade da verdade não abriram mão de fundá-la em alguma instância metalinguística. 

— Lacan é um solitário, que aceita o desafio perspectivista de Nietzsche sem, no entanto, abandonar a centralidade da verdade — diz Iannini. Para ele, Lacan inscreveu no discurso analítico o que responde ao quebra-cabeça que deixou a filosofia do pós-guerra numa situação embaraçosa. 

— É como diz Gérard Wajcman, a filosofia ficou sem saber como fazer o impensável entrar no pensamento, o irrepresentável entrar na representação, a ausência entrar na presença. Eis uma lição a aprender com Lacan: como sair do embaraço. 

*Carla Rodrigues é professora de Filosofia na UFF e de Comunicação na PUC-Rio, doutora em Filosofia e pesquisadora do CNPq 

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